Ás vezes não me reconheço
No amor nunca devemos dar tudo de nós, devemos ficar sempre com uma percentagem que é a nossa dignidade e o nosso amor próprio. Diziam-me um dia destes como frase de desabafo.
Sim, lá vem o amor ao de cima e mais um texto lamechas e blá, blá , blá.....cada um vive e dá o que sente á sua maneira. Realmente começo a entender o significado desta frase e cada vez faz mais sentido em mim. Mas uma percentagem. Quanto? 60% ? 50? Dar á medida que nos dão? Se amo dou quanto? Como é que isso se traduz em números no coração? Como é que isso se sente?
Ou dou tudo ou não dou nada, este é o meu lema no amor. Por causa disto talvez sempre tenha tido má sorte, mas pronto vivo o sentimento com tudo de mim, dou tudo a quem amo, e quando digo tudo, é tudo mesmo. Não vou contar pormenores mas, ás vezes gostava de desabafar tudo o que tenho dentro de mim e não posso.
Tenho dias que me custa ver o que deixo para trás, o que prescindo, o quanto me esqueço de mim, o que dou e faço, o que corro para conseguir, o que encondo para ter, o que minto para chegar lá, o que abdico para ser feliz ali naquele instante e naquele momento que me preenche o coração, apenas por amor.
Deixo-me aprisionar e aliciar com o carinho, com o afeto, com a ternura e depois torno-me esta pessoa exigente para com o outro. Se envio uma mensagem exijo uma em troca, se telefono exijo o retorno, se deixo tanta coisa para trás exijo o mesmo, se dou tudo de mim desejo isso de igual forma, se trato como prioridade exijo ser também assim tratada. Não sei se penso mal, mas é assim a minha maneira de ser.
Dou valor a todos os pequenos detalhes no amor, prefiro um abraço a ser comprada com um presente, prefiro ajudar e não ter valor do que ficar impávida e serena sem mexer uma palha, prefiro a preocupação que tantas vezes me faz sofrer, prefiro o dar ao receber, prefiro ser eu a avançar do que esperar, prefiro esquecer-me de mim para me entregar ainda mais.
Não sei se este texto está a fazer algum sentido, mas o que é certo é que tenho um turbilhão de palavras á porta do coração para sair e tenho que me conter no seu uso correto.
Estou quase a fazer 40 anos e tenho a vida tão embrulhada como tinha com 20.
Continuo a ser aquela parva que faz tudo, que dá tudo aos outros, que deixa tudo a ponto de se esquecer de si. Hoje queria ter uma casa e não consigo, queria ter paz na alma e no coração e cada vez existem mais pensamentos e problemas, queria que o tempo passasse depressa para me dar as respostas certas ás minhas perguntas, queria ser diferente. Queria não ter medo do escuro que é a vida. Queria ter coragem de encerrar ciclos e confiar que alguém gosta mesmo de mim. Queria ter mais fé em mim própria e coragem para aceitar tudo o que tenho pois se é permitido é porque é o mais correto. Queria ter uma luzinha que me acompanhasse e olhasse por mim e agisse em certos momentos de confusão. Queria viver na espera de cada dia com o coração aberto para o que vier sem ter que pensar muito. Queria aceitar a vida como uma bussula correta, mesmo neste compasso incerto que um dia será o certo. Queria aceitar melhor o silêncio sem porquês.Queria acreditar na minha intuição positiva e não me deixar influenciar pelos negativismos que me atacam.Queria ouvir a voz do meu coração. Queria saber a diferença entre escolher e desistir. Queria saber a diferença entre agarrar com todas as forças e largar se não me sentir bem agarrada também. Queria saber o que ganho se largar o que fere o coração, queria saber o que sai de mim ou me torna outra pessoa se mudar a minha atitude e a minha personalidade. Queria saber que criatura me vou tornar se deixar de ser eu, se deixar de ser bondosa e começar a esfriar o coração. Queria saber quando e se alguma vez vou ter sorte nesta vida.
Comentários
Confesso que estou a ficar saturada de dar tudo de mim e só receber pontapés.